Frequentadores do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) João Dorvalino Borba participaram, nesta quarta-feira (10/10), da quinta oficina Ressignificando a Vida Através do Desenho. A atividade é uma das estratégias socioeducativas oferecidas para promover a autoestima e a reorganização da vida dos participantes - homens e mulheres que se afastaram das famílias por causa da dependência química ou por apresentarem transtornos mentais.
A proposta do Centro Pop é que, além de permanecerem no local enquanto se preparam para voltar ao mercado de trabalho, eles reflitam sobre suas histórias de vida e desenvolvam interesses que os ajudem a superar a condição atual. “Além de acolhê-los neste momento difícil, trabalhamos para que eles retomem os vínculos afetivos e se mantenham por conta própria”, diz a coordenadora da unidade, a assistente social Cinthia Etsuko Takahashi de Lima.
Centros Pop como o João Dorvalino Borba são espaços da Fundação de Ação Social (FAS) onde as pessoas em situação de rua recebem atendimento técnico socioassistencial e são encaminhadas para serviços de outras áreas, de acordo com as necessidades de cada um. Além disso, nesses locais todos têm à disposição espaço para tomar banho, lavar roupas ou receber agasalhos limpos doados pela população ao Disque Solidariedade e se alimentar durante o dia. Elas chegam lá depois de saírem das unidades de pernoite ou casas de passagem da FAS.
Aposta na autoestima
O ex-auxiliar de manutenção e de panificação Antônio Estevo Likoski não perde nenhuma oficina de desenho desde que chegou ao Centro Pop Dorvalino, há cerca de um mês, quando foi resgatado por uma equipe de abordagem social da FAS que passava pela praça Rui Barbosa, em uma manhã fria de setembro. “Eu estava esperando o sol e o pessoal chegou. Foi a melhor coisa que podia acontecer”, relembra Likoski.
Na última oficina, ele desenhou e também escreveu sobre o tema Meu Primeiro Filho, proposto pela pedagoga voluntária e aposentada da Prefeitura Maria Amália Morais Dombrowski. A imagem, desenhada a lápis, mostra uma figura masculina segurando um bebê diante de um berço. É Fernanda, a filha mais velha, de quem ele se afastou por causa da bebida e com quem gostaria de conviver. Acima da imagem, o texto resumia a alegria de saber pela mulher, no final dos anos 70, que seria pai.
Grávida, a ex-auxiliar de cozinha Michelle Fernandes tentou retratar Camila - o bebê que terá em fevereiro, na maternidade Mater Dei - e chorou. “Fico pensando como vai ser cuidar dessa criança sem ter uma casa minha”, disse ela, que deverá ser encaminhada para a unidade conveniada à FAS que acolhe mulheres em condição de rua com filhos pequenos.
Oportunidade de recomeçar
Segundo a orientadora da oficina, a reação de Michelle é esperada. “Esse é um espaço para ouvir e para desabafar, repassar as vivências e pensar no futuro”, disse Maria Amália, ocupada em conhecer as experiências dos seis participantes da oficina. Na mesa da sala de atividades onde o grupo desenha e conversa há espaço para mais duas pessoas.
Além das oficinas de desenho, que acontecem sempre às quartas-feiras, os frequentadores do Centro Pop também praticam esportes na praça Oswaldo Cruz às terças-feiras e aulas de alfabetização e reforço escolar às quintas-feiras, na própria unidade, para incentivar a retomada dos estudos. Já às sextas-feiras, usando materiais da unidade, aprendem a customizar e fazer pequenos reparos em roupas. A programação acontece sempre pela manhã.
Em breve, segundo a coordenadora da unidade, os frequentadores do Centro Pop terão outra ocupação: criar o jardim vertical da unidade, localizada no Centro. As mudas de bocas-de-leão já chegaram e em breve os que desejarem ajudarão a colocar vasinhos de flor em pallets que serão usados no paisagismo.